EU QUERO COLO

Peguei-me pensando hoje, como em mais vezes do que gosto de admitir, que queria chegar em casa e aterrissar em pouso único no colo de alguém. Sem escalas. Alguém que eu amo. Podia ser a minha mãe, podia ser meu irmão, podia ser aquele “não-tão-mais-estranho” para quem eu abri minha casa e chamei de amor.

Juro. Entraria pela porta da frente, daria um back flip twist carpado atravessando a sala, e terminaria este dia – que teve mais horas do que gostaria – no colo de alguém. E lá, naquele colo, faria manha sobre a enxaqueca que me assombra há quatro dias (três deles num final de semana!), prometeria que lavaria a louça num segundo, e faria juras de pés juntos que iria parar um tempo, da minha vida ocupada somente com os outros, para planejar aquele sonho que há meses me espera guardado na gaveta.

Tem dias que é assim. A gente não se basta. Muito embora meu pai ache que sou independente desde o tempo que não tinha dente. Muito embora a ideia contrarie aquele ex-namorado que me julgou um tanto quanto autossuficiente. Muito embora isso vá na contramão daquele amigo que jura que eu sou feminista/mulher-moderna/mulher-chata. Muito embora eu tenha ido embora muitas vezes. Não. Lamento desapontá-los. Eu preciso de colo.

Eu sei, eu sei, isso não é fraqueza/luxo/desejo/necessidade que só eu alimento. A gente nasceu e foi direto pro colo, nada mais justo precisarmos quase que a vida toda de colo de pai, mãe, marido, esposa, namorado(a), amigo(a), amante, padre, terapeuta ou garçom.

A fase que eu estou, entretanto, é curiosa. Eu sou adulta, moro sozinha, sou solteira, e sofro da síndrome do “desculpa, não queria atrapalhar”. Ou seja, tem situações que não dá pra pedir colo mesmo. Ok, eu já pedi pro meu irmão me trazer uma sopa no meio de uma febre, mas também já chorei sozinha na Unimed porque achei que era muito tarde pra ligar pra minha mãe. Eu não chorei porque tava com febre. Mas sim, porque tava sem a minha mãe. Acontece.

Fato é que nesta fase curiosa a gente é obrigada a aprender a se dar colo. Vejo isso lá em casa, e nos whatsapps pelo mundo. Entre as pérolas estão as minhas crises de abraços no sofá, discussões sobre o cronograma da louça comigo mesma, ou até carícias na própria cabeça ao sair do trabalho à 01h10 dizendo “ora, ora…”.

Essa habilidade, confesso, me parece feita de argila. Um dia pode até ser pedra, escultura, arte, mas até lá você tem que ir moldando, a afagos, lágrimas, uma porrada aqui e outra acolá. E por mais duro que seja, creio que não pegaria atalho algum. É reconfortante a ideia de achar porto seguro em si mesmo. Até aquele dia que tudo muda…

E até lá… bom até lá, eu vou treinando. Nem que seja o meu back flip twist carpado.






Sobre a inteligência, a força e a beleza feminina.