Por: Fabiola Simoes
É difícil explicar as razões que nos fazem simpatizar de cara com alguém. É difícil encontrar motivos que justifiquem a alegria espontânea que sentimos quando estamos perto dessa pessoa ou a falta absurda que ela nos faz, mesmo que a tenhamos conhecido há tão pouco tempo.
Mas acontece. Algumas pessoas cruzam nosso caminho e a conexão é imediata. Dizem que as almas já se conheciam, por isso não são necessárias apresentações, explicações, conclusões. Apenas sentimos. E ponto. Com elas ficamos à vontade, sentimos familiaridade, temos vontade de descalçar os sapatos, abrir uma garrafa de vinho e passar o resto do dia, da semana, do ano… falando da vida, rindo à toa e confessando segredos sem receio de o choro vir à tona.
Quando há conexão de almas, nós nos reconhecemos no olhar e, antes mesmo das apresentações, sentimos proximidade. E, por mais que faltem explicações, sobram semelhanças e sincronicidade. É como se o Universo operasse a nosso favor e os nossos caminhos estivessem fadados a se cruzar.
Algumas coisas são inexplicáveis nesta vida, e a conexão imediata que sentimos perto de algumas pessoas é assim também.
Nem sempre a pessoa é a mais bonita, mas nos atrai de maneira inexplicável e intensa. Ela sorri e você tem vontade de sorrir também; você abre a boca para falar algo, ela interrompe com aquilo que você estava prestes a dizer; você pensa nela e ela lhe manda uma mensagem no WhatsApp; você perde o sono e descobre que na mesma noite ela sonhou com você.
Conexão é algo inexplicável, que faz com que você se veja refletido no outro de uma maneira que faz você gostar mais de si mesmo. Não há censura, julgamento ou condenação, você é acolhido e aceito como é, e aquilo que parecia tão difícil ou complicado vai ficando mais leve e fácil de carregar.
Familiaridade
De vez em quando, conhecemos alguém e temos a sensação de que já o conhecíamos anteriormente. O psicanalista Christian Dunker explica essa familiaridade ou “conexão de almas” dizendo que o indivíduo tem algumas lacunas, repressões ou resistências dentro de si. É como se a pessoa olhasse algo, mas não o enxergasse, ouvisse algo, mas não o escutasse. Até que aparece outra pessoa que faz a integração.
Essa pessoa entra na nossa vida reunindo traços de percepção ou de desejo que estavam em pendência. Assim, a sensação é de que já a conhecíamos, mas na verdade o que ocorreu foi que essa pessoa trouxe algo que nos fez entrar em contato com nossas lacunas e desaceitações, com aquilo com que precisávamos lidar em algum momento ou outro da vida e, de repente, tudo faz sentido.
“Antes do amanhecer”
Entendendo ou não de psicanálise, o fato é que gostaríamos de acreditar que seria possível passar um dia inteiro ao lado de alguém que acabamos de conhecer num trem, como no filme “Antes do amanhecer”, e encontrar nele o tipo de afinidade que estivemos buscando a vida toda.
O filme fez tanto sucesso na década de 1990 que virou uma trilogia (se não assistiram, corram para ver). A trilogia gravada entre os anos de 1995 e 2013 (com o mesmo elenco) fala desse tipo de conexão rara, que pode nascer de um encontro casual e durar uma vida inteira.
Acredito que isso seja possível, sim. O encantamento, a simpatia gratuita e a conexão imediata que sentimos ao lado de algumas pessoas nos fazem acreditar que não há explicação lógica para tudo, e que nossa alma tem mais mistérios do que podemos supor ou entender.
Sinta-se abençoado se, alguma vez, conseguiu sentir. Sinta-se privilegiado, se a outra pessoa sentiu o mesmo que você.
Conexões de pele são passageiras; conexões de alma duram a vida inteira.