A casa pode esperar, a minha filha não!
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Por: Tânia Correia

Foi facílimo escrever este título, saiu naturalmente, sem precisar de pensar muito. Contudo, posso-vos dizer que foi das aprendizagens mais duras que fiz.

Como se não fosse suficientemente exigente ser boa mãe, companheira, irmã, filha, amiga, entre outros, ainda esperam que sejamos excelentes donas de casa (às vezes não são os outros, somos nós).

No meio das horas a dar de mamar ou a preparar refeições com o equilíbrio perfeito de nutrientes e sabor, a mudar fraldas, a dar banho, a lutar para pôr o soro, a inventar brincadeiras super giras em que fazemos vozes e caras que até aí desconhecíamos ser capazes de fazer, a pensar nas melhores maneiras de estimular o seu desenvolvimento cognitivo e motor, a dar mimo, a embalá-los, a embalá-los e a embalá-los (para captar o número de horas que passamos nisto acho que tinha de escrever esta palavra pelo menos mais 52 vezes), ainda pensamos ou fazem-nos pensar que temos de ter a casa impecável, como se ao final do dia fosse aparecer aquele senhor do anúncio que passa uma luva branca no móvel para verificar se existem resíduos de pó.

Talvez algumas pessoas entrem em nossa casa e pensem que “esta esteve o dia todo em casa e não fez quase nada“. Que “a maternidade a deixou desleixada“. Que “a Dona Maria da Luz tinha 5 filhos, vivia sem água potável e mesmo assim tinha a casa sempre a brilhar“. Na verdade, pouco importa.

Lá em casa a felicidade mede-se pelo brilho dos olhos da minha filha, não pelo brilho do chão. Essa é a prioridade, a nossa missão!

Se isto não chega, vamos a factos!

Já alguma vez pensaram na duração do ciclo de vida de um filho? Imaginem um gráfico em que o número de horas de convívio começa bem lá em cima. Mas depois disso vai descendo gradualmente até chegar à adolescência, altura em que desce a pique por, naturalmente, os pares (amigos, colegas, namoricos) passarem a ser prioridade.

Ainda que atualmente os jovens adultos vivam mais tempo com os pais, acabam por passar pouco tempo em casa. Bem espremido, isto talvez nos dê um total de 25 a 30 anos de convívio diário, sendo que apenas 12 ou 14 desses anos – na melhor das hipóteses – são de grande contato. Depois disso, claro que continua a existir proximidade, mas não nos mesmos moldes.

Nessa altura, sabem quem é que estará à vossa espera? As tarefas de casa!

A casa pode esperar, a minha filha não!

Essas vão conviver conosco até ao final dos nossos dias. Teremos montes e montes de tempo para elas. Até demasiado, e contrariamente ao que acontece com os nossos filhos, estas não se sentirão pouco amadas.

Ainda que por vezes te possa custar olhar para a roupa por passar, para a loiça do almoço por lavar, para aquele cotão no cantinho da porta que está sempre a aparecer, lembra-te que é uma fase.

Acredito que a maternidade exija que façamos esta aprendizagem de viver feliz no meio do caos.

Mais para a frente terás milhões de horas para investir em ti enquanto dona de casa para andar a esfregar os cantos da banheira com uma escova de dentes.

A casa não sente a tua falta. Não chora por ti. Nem vai um dia dizer em voz alta que lhe proporcionaste uma excelente infância. Não vai cuidar de ti quando um dia precisares.
Estás a investir em ti enquanto mãe, no teu bebé que precisa de tanto de ti para se sentir amado. Estás a construir uma relação sólida (vinculação) que determinará o futuro do teu filho de uma maneira que talvez nem antecipes.

Estudos mostram que o vinculo dos pais com a criança condiciona a relação que esta irá estabelecer em adulto com os outros. Como irá lidar com adversidades, e moldará as expectativas relativamente ao mundo. Se é um lugar que nos acolhe cheio de potencialidades, ou um lugar assustador, recheado de obstáculos.

No fundo, diariamente ajudas alguém a construir-se, a descobrir-se e a descobrir o mundo, vives com o futuro nas mãos. Em relação ao resto das tarefas, amanhã também é dia! A casa pode esperar, a minha filha não!

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Fonte: Uptokids






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