Hoje, em tempos de opiniões raivosas e destemperadas pelas redes sociais, em que discordar de alguém quase sempre implica ofensas e baixarias, manter-se em equilíbrio torna-se uma tarefa penosa.
Diariamente, somos obrigados a suspirar fundo para não surtar, frente a discursos de ódio disfarçados de opinião, frente a preconceito disfarçado de argumento, tendo que policiar o que falamos ou digitamos, para não sermos alvo de mal entendidos descabidos.
A raiva parece permear muitas relações e interações entre as pessoas ultimamente, haja vista as pressões que todos carregamos em nossas jornadas. Crise econômica, desemprego, falta de perspectivas, violência crescente, o mundo está cada vez mais perigoso. Os sentimentos estão cada vez mais confusos. Os sonhos estão cada vez mais perdidos. E, quando sonhos e sentimentos entram em desordem, tudo o mais acaba sofrendo.
Os apelos midiáticos nos motivam a consumir para sermos felizes e a alcançarmos perfeições estéticas para sermos aceitos. Padrões de beleza quase que inalcançáveis à maioria dos mortais e estilos de vida muito distantes do poder aquisitivo da maioria esmagadora da população tornam várias pessoas frustradas, descontentes, com os nervos à flor da pele. Estafadas por conta das jornadas extensas de trabalho, mal encontram tempo para aliviar o esmagamento afetivo do peso cotidiano.
Temos, nós, portanto, que tentar encontrar alguma forma de controle emocional, para que não enlouqueçamos de vez, para que não entremos na escuridão do outro, para que não carreguemos pesos que não são nossos. Devemos ter a consciência de que aquilo que o outro diz é da conta dele e a forma como ele age também. Se estivermos com a consciência tranquila, os berros e os xingamentos alheios não nos atingirão.
Muitas vezes, teremos, sim, que nos colocar e refutar o que nos chega, a fim de que os limites de nossa dignidade fiquem bem claros. No entanto, determinadas pessoas não merecerão retorno algum de nós, pois sempre distorcerão tudo o que falarmos ou escrevermos, jogando baixo, num nível a que não valerá a pena descermos. Nem sempre, portanto, deveremos pagar na mesma moeda, porque o desprezo e um sorriso no rosto serão, em determinados momentos, providenciais para que o mal permaneça lá longe, enquanto seguimos em paz.
Imagem: Aral Tasher
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